A fotografia nas obras de Orlando Ribeiro

Os seus primeiros artigos, bem como os mais de duzentos outros, que iria escrever e publicar ao longo duma carreira científica de meio século, foram acompanhados, ou não, de mapas, desenhos e fotografias, segundo a interferência de dois critérios, de natureza bem distinta: o maior, ou menor, interesse científico da inclusão de documentação gráfica; mas também os recursos financeiros disponíveis, que permitiam uma edição mais ou menos dispendiosa.

Assim, no Prefácio da sua dissertação de doutoramento, A Arrábida (1935), Orlando Ribeiro notou que “As dificuldades materiais não permitiram que este esboço vá acompanhado de mapas, desenhos e fotografias, hoje indispensáveis em trabalho desta índole”. Mas desde que a oportunidade financeira surgiu, passou a completar o texto de parte dos seus artigos com os necessários mapas e fotografias expressivas.

São exemplos dos primeiros artigos deste tipo, difundidos em conceituadas revistas francesas: “Observations geólogiques et morphologiques dans les environs de Vila Velha de Ródão” na Revue de Géographie Physique et de Géologie Dynamique, em 1939, e “Remarques sur la morphologie de la région de Sintra et Cascais”, na Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, em 1940.

Em 1940/41, consegue que a Revista da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, que em 1937 publicara a dissertação sobre A Arrábida sem ilustrações, inclua na publicação de um extenso artigo de 90 páginas “Contribuição para o estudo do pastoreio na Serra da Estrela”, 6 mapas, alguns quadros, 24 fotografias e 1 desenho.

Logo que o seu salário de jovem professor universitário o permitiu, Orlando Ribeiro, comprou uma excelente máquina Leica, que ia acompanhá-lo em todas as suas viagens através de Portugal e do Mundo.

Capa do livro "Le Portugal Central"

Ao organizar, em 1949, o Congresso Internacional de Geografia, da União Geográfica Internacional, dispôs de recursos que permitiram, entre outra documentação, publicar seis Livros-Guias, em francês, das excursões em Portugal para uso dos participantes do Congresso. Cobrindo a maior parte do território continental, mais a ilha da Madeira, estes livros-guias, três dos quais foram reeditados mais tarde, incluem importante expressão gráfica, através de mapas, desenhos e numerosas fotografias. Alcançando uma vasta audiência internacional, estes Guias constituíram, durante muito tempo, a fonte principal do conhecimento, no estrangeiro, da Geografia de Portugal.

Capa do livro "A Ilha do Fogo e as suas erupções"

A Ilha do Fogo e as suas erupções (1951) é, também, uma das raras oportunidades que permite a Orlando Ribeiro trazer a público um importante conjunto de fotografias, ao mesmo tempo que demonstrou a importância do registo fotográfico para a transmissão de informação sobre as paisagens, os acontecimentos geológicos e a vida dos habitantes, na sua diversidade e nas suas actividades e modos de ser.

Geografia e Civilização (1961) é outro exemplo de obra destinada a largo público que incluía, como já vinha sendo propósito nas publicações do Centro de Estudos Geográficos, um conjunto significativo de fotografias.

Reedições das obras de Orlando Ribeiro têm incluído fotografias e outros documentos gráficos que não constavam das edições originais. É o caso de A Originalidade da Expansão Portuguesa, da João Sá da Costa Editora, em 1994; Goa em 1956, Relatório ao Governo, da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, em 1999, neste caso a publicação dum texto inédito, acompanhado por 70 fotografias, escolhidas entre o milhar que Orlando Ribeiro recolheu durante a missão de estudo à Índia, em 1955-56; e de A Arrábida: esboço geográfico, edição da Câmara Municipal de Sesimbra/Fundação Oriente, Fevereiro 2004.

Capa do livro "Originalidade da Expansão Portuguesa"  
Capa do livro "Goa em 1956"
 
Capa do livro "A Arrábida"

Grande parte do manancial fotográfico que Orlando Ribeiro produziu ao longo da sua vida de geógrafo continua, porém, desconhecido do grande público. A colecção está acessível aos que, por razões de estudo ou investigação, frequentam os serviços do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa, onde esse espólio fotográfico se encontra arquivado.


Topo