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Essencialmente dedicado ao ensino e investigação em Geografia, Orlando Ribeiro é considerado o renovador desta ciência no Portugal do século XX, e o geógrafo português com mais ampla projecção a nível internacional. No entanto, a sua vasta obra, produzida a par da longa e intensa carreira como professor e investigador universitário, abarca muito mais do que avanços científicos na Geografia, e revela uma diversidade de interesses e intervenções que desenham uma invulgar geografia intelectual. A renovação da Geografia, pela introdução do factor humano como elemento central à compreensão geográfica entendida como síntese de muitas realidades, é antes de mais fruto de um espírito humanista que desde os anos do liceu impulsionava o estudante Orlando Ribeiro para o conhecimento da História, da Antropologia, da Etnografia, através do contacto, entre outros, com David Lopes, seu professor, e Leite de Vasconcellos, de quem foi também, desde muito jovem e ao longo da vida, dedicado discípulo. Mas o alargamento de horizontes da Geografia como ciência é também resultado do seu espírito curioso e independente que, ainda nos bancos da escola, o levou a manter ligações com cientistas de outras áreas, onde procurou alicerces de uma formação naturalista que sempre consideraria indispensável a um geógrafo. Aprendeu geologia trabalhando no campo com Fleury e colaborando mais tarde com Carlos Teixeira e Zbyszewsky. Reflexões metodológicas e sobre questões de biologia, buscou-as na medicina através de amigos como Juvenal Esteves, Barahona Fernandes ou Celestino da Costa. Com eles partilhava também a inspiração universalista da literatura e da música, em autores como Goethe, Bach, Beethoven e Bruckner. É sobre Goethe a sua primeira conferência, no ano do centenário da morte do escritor (1932), e o seu primeiro artigo, Geografia humana, é publicado, em 1934, numa revista de medicina. Licenciado em Geografia e História em 1932, Orlando Ribeiro doutorou-se em Geografia pela Universidade de Lisboa em 1936, com a tese A Arrábida, esboço geográfico. Em 1937 segue para Paris como Leitor de Português na Sorbonne, onde viria a alargar horizontes com mestres como Marc Bloch, E. de Martonne e A. Demangeon. De regresso a Portugal em 1940, foi sucessivamente nomeado Professor em Coimbra e em Lisboa onde, em 1943, fundou o Centro de Estudos Geográficos. Da sua intensa actividade se destaca, desde 1945, uma das suas obras de síntese mais conhecidas, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, e a criação, em 1966, da revista Finisterra, ainda hoje um dos veículos editoriais mais importantes para a geografia portuguesa, a nível nacional e internacional. A colaboração científica internacional foi, com efeito, outro aspecto marcante da actividade de Orlando Ribeiro. Em 1949 organizou em Lisboa o que seria, no pós-guerra, o primeiro Congresso da União Geográfica Internacional, organização para que viria a ser nomeado Primeiro Vice-Presidente em 1952. Ao longo da vida praticou, e estimulou nos seus alunos, o intercâmbio com geógrafos estrangeiros através de estágios e de viagens de investigação a que dedicou grande parte do seu tempo. São talvez as viagens, e os trabalhos delas resultantes, o melhor testemunho da sua actividade como geógrafo. Mas são também elas, por excelência, os elos que nos revelam as suas preocupações sociais com os territórios e povos estudados, e nos transportam à sua sensibilidade como fotógrafo, ao “fundo mágico da sua personalidade”, à qualidade literária da sua prosa. Viajante incansável, sobretudo em Portugal e Espanha na década de 40, e pelo Mundo fora entre 1950-1965, com destaque para o ultramar português, Orlando Ribeiro oferece-nos leituras de muitos lugares do Mundo em que a observação científica não se desliga da natureza como um todo, dos costumes, da arte e, sobretudo, do elemento humano. Cidadão interveniente e profícuo prosador sobre muitos outros temas como a ciência, o ensino e a universidade, as reformas educativas ou os problemas coloniais, Orlando Ribeiro usou sempre de uma frontalidade que, se não diminuía o respeito científico que lhe era reconhecido, também nunca facilitou as suas relações com os órgãos de decisão, desde o Estado Novo ao período pós 25 de Abril. Por muito tempo teve, como resposta às suas opiniões, um invariável silêncio. Contrastando com o precoce reconhecimento a nível internacional, a difusão da sua obra e as honras oficiais, no seu próprio país, surgiram muito tardiamente. É ainda pela própria pena de Orlando Ribeiro que podemos hoje rever toda uma época e experiência de vida através da sua rica prosa memorialística, recolhida e dada à estampa em Orlando Ribeiro: Memórias de um Geógrafo, em 2003. Mas, sobre Orlando Ribeiro e a sua obra, existem também muitos outros testemunhos publicados desde os anos 70.
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